Frase do dia

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Soneto, Gregório de Matos

Carregado de mim ando no mundo,

E o grande peso embarga-me as passadas,

Que como ando por vias desusadas,

Faço o peso crescer, e vou-me ao fundo.

 

O remédio será seguir o imundo Caminho,

onde dos mais vejo as pisadas,

Que as bestas andam juntas mais ousadas,

Do que anda só o engenho mais profundo.

 

Não é fácil viver entre os insanos,

Erra, quem presumir que sabe tudo,

Se o atalho não soube dos seus danos.

 

O prudente varão há de ser mudo,

Que é melhor neste mundo, mar de enganos,

Ser louco c'os demais, que só, sisudo.

A lucidez perigosa, Clarice Lispector

Estou sentindo uma clareza tão grande
que me anula como pessoa atual e comum:
é uma lucidez vazia, como explicar?
assim como um cálculo matemático perfeito
do qual, no entanto, não se precise.

Estou por assim dizer
vendo claramente o vazio.
E nem entendo aquilo que entendo:
pois estou infinitamente maior que eu mesma,
e não me alcanço.
Além do que:
que faço dessa lucidez?
Sei também que esta minha lucidez
pode-se tornar o inferno humano
- já me aconteceu antes.

Pois sei que
- em termos de nossa diária
e permanente acomodação
resignada à irrealidade -
essa clareza de realidade
é um risco.

Apagai, pois, minha flama, Deus,
porque ela não me serve
para viver os dias.
Ajudai-me a de novo consistir
dos modos possíveis.
Eu consisto,
eu consisto,
amém.

“A Lucidez Perigosa”, in: A Descoberta do Mundo, Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1984, p. 636


OBS: Este poema é resultado do arranjo em versos, feito pelo padre Antônio Damázio, de textos em prosa da extraordinária escritora Clarice Lispector.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Verbos sujeitos

De Christiaan Oyes e Zélia Duncam

Olhos pra te rever

Boca pra te provar

Noites pra te perder

Mapas pra te encontrar

Fotos pra te reter

Luas pra te esperar

Voz pra te convencer

Ruas pra te avistar

Calma pra te entender

Verbos pra te esclarecer

Sonhos pra te acordar

Taras pra te morder

Cartas pra te selar

Sexo pra estremecer

Contos pra te encantar

Silêncio pra te comover

Música pra te alcançar

Refrão pra te enternecer

E agora só falta você

Meus verbos sujeitos ao seu modo de me acionar

Meus verbos em aberto pra você me conjugar

Quero, vou, fui, não vi, voltei,

Mas sei que um dia, de novo, eu irei….

Christiaan Oyes e Zélia Duncan. In: DUNCAN, Zélia . Acesso. CD Warner Music Brasil, 1998, faixa 2. Duncan Edições Musicais / 2B Produções Artísticas Ltda.- 50% parte de Christiaan Oyes.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Relatório

O relatório é um documento em que se registram observações, pesquisas, investigações, fatos, variando de acordo com o assunto e com as finalidades. Assim, há, por exemplo, relatório executivo, operacional, de estágio, de auditoria, de reunião de estudos.


A redação é a etapa final do desenvolvimento de um processo. Só será bem feita se as etapas iniciais tiverem sido todas cumpridas com dedicação e cuidado. Para redigir bem, o relator deve ter expressão lingüística desenvolvida pelo treino constante de redação alicerçada em bons conhecimentos gramaticais. A clareza e a correção devem constituir-se em preocupação constante para se conseguir um texto de leitura fácil e agradável.



Etapas da redação de um relatório



1) ATITUDES ANTES DE SE INICIAR O TRABALHO DE CAMPO

 Deve haver preparação intelectual para perfeito conhecimento do assunto a ser tratado no relatório.

 Disposição psicológica positiva facilitará a tarefa e o deixará mais atento e disposto para a realização do trabalho todo.

 A fixação dos objetivos, das finalidades é imprescindível para o correto desenvolvimento das atividades.

 A determinação dos métodos de trabalho ser feita criteriosamente, levando em conta os objetivos, as circunstâncias, os recursos – é a marcação de como será percorrido o caminho.

 Adequação ao destinatário: você irá comunicar-se de acordo com quem receberá a sua mensagem. Use a linguagem que irá atingir mais eficazmente quem irá ler e avaliar o relatório. Pense no destinatário antes de iniciar o trabalho, para fazer as suas opções com mais acerto.



2) DURANTE O TRABALHO DE CAMPO

 Observações devem ser cuidadosas, muito atentas. Para observar, concentre-se no trabalho, evitando distrações que desviem a atenção.

 Anotações: não confie na memória nem a sobrecarregue. As anotações é que darão os dados para a redação do relatório.

 A seleção das observações relevantes é feita nos momentos de reflexão sobre o que já foi realizado, num processo de avaliação parcial.

 Conclusões parciais decorrem da seleção de observações e de sua avaliação.

 Recomendações: quais você apresenta, se o relatório é de caráter consultivo. Assuma posições com base em argumentos decorrentes dos fatos comprovados.

 Comentários dos outros envolvidos no trabalho. Se o seu texto relata observações sobre o trabalho de outras pessoas, é preciso saber a opinião, as justificativas, as explicações – enfim, os argumentos que elas têm para explicar os fatos, esclarecer as dúvidas.

 Reavaliação do trabalho é uma reflexão sobre o que se fez para determinar os valores e estabelecer os níveis de importância dos elementos que serão relatados.



3) ELABORAÇÃO DO RELATÓRIO - RASCUNHO

 Esquematize o relatório antes de iniciar a redação.

 Cabeçalhos breves facilitam a leitura e despertam mais interesse.

 A linguagem deve ser clara, correta, concisa, adequada. É primordial conhecer bem as normas da Língua Portuguesa para reproduzir um texto em bom nível. Evite a linguagem afetiva num trabalho que deve ser técnico.

 A revisão do texto deve ser feita várias vezes no rascunho. Dê um espaço de tempo entre uma e outra releitura, para ter uma visão crítica mais acurada sobre o que escreveu.



4) REDAÇÃO FINAL

 Reestude o texto do rascunho. Reveja não só suas observações, opiniões, mas também a expressão lingüística.

 Reescreva o que for necessário, não se acomode nem seja impaciente.

 Cuide bem da apresentação gráfica, com boa grafia, para que o trabalho possa ser lido com facilidade. Não deve haver grafismos desnecessários, como abuso de sublinhados e de maiúsculas.

 A ilustração com mapas, gráficos, gravuras facilita a comunicação. Observe se é conveniente intercalar as ilustrações no texto ou se é melhor abrir mais uma seção no final para as ilustrações.

 A revisão deve ser cuidadosa tanto no aspecto gráfico quanto no conteúdo. Se possível, peça para um colega fazer a revisão.

 Date, assine e encaminhe o relatório.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Natal, de Mario Prata

             O fato se deu na casa do neto de um amigo (céus, meus amigos já têm netos!). Garoto de cinco anos. Diz o jovem avô coruja (tem 50, antigamente avô tinha pra mais de setenta, não era, não?), bem, diz o avô que o menino, desde o primeiro Natal, ainda no colo, ficava deslumbrado com a árvore que todo ano aparecia na sala. Com quatro e cinco já ajudava e colocar os badulaques todos.

             Pois foi em janeiro do ano que está terminando que o Joaquim (nome do neto e não do avô) – mais precisamente no dia 6 – reclamou com aquela autoridade de cinco anos já completados:
             - Mas vai desmanchar a árvore de novo? (e quase chorando). Porque que todo ano tem que desmanchar a árvore? Por quê?
              Era hora do café da manhã, todo mundo reunido. Pai, mãe, irmãos mais velhos: senhores de 10 e 14 anos. E todos se entreolharam.
              - É uma tradição, meu filho.
              - Tradição?, perguntou o Joaquim que não tinha a mínima idéia do que fosse uma tradição.
              - Tradição.
              Não sabia o que era aquela palavra esquisita, mas devia ser coisa muito séria, porque a tal da tradição obrigava todas as casas da rua, da cidade, a desarrumarem a árvore de Natal no dia 6 de janeiro. Dias de Reis!, acrescentou a mãe.
              Joaquim se calou mas aprendeu que rei e tradição deveriam ter alguma coisa em comum. De rei, ele só conhecia os reis magos. Ou magros, como ele dizia.
               - Se é coisa de dia de rei, então os reis magros ficam no presépio.
                O pai encarou:
               - E posso saber porque?
               E o garoto não pestanejou:
               - Tradição!
               E a árvore não foi desmontada. E o presépio está lá até hoje. Tá certo que foi incremento com umas motos, uma perna de Barbie, um Homem-Aranha e uma nota de um dólar que ninguém sabe de onde saiu. Fora um relógio de plástico cor-de-rosa
               E a árvore de Natal, no lugar das bolas vermelhas, amarelas “Iguais as do Guga”. E, lá em cima, no lugar da tradicional estrela-cometa, uma bandeira do Brasil escrito com a letra dele, em forma: R-O-N-A-D-O.

PRATA, Mario. Revista BCP,  14/10/2002.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

A rosa de Hiroxima, de Vinicius de Moraes



Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas oh não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroxima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A anti-rosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Felicidade, de Içami Tiba



Os pais podem dar alegria e satisfação para um filho,
                           mas não há como lhe dar felicidade.
Os pais podem aliviar sofrimentos enchendo-o de presentes,
                           mas não há como lhe comprar felicidade.
Os pais podem ser muito bem-sucedidos e felizes,
                           mas não há como lhe emprestar felicidade.

Mas os pais podem aos filhos
            Dar muito amor, carinho, respeito,
                   Ensinar tolerância, solidariedade e cidadania,
                        Exigir reciprocidade, disciplina e religiosidade,
                               Reforçar a ética e a preservação da Terra.

                Pois é de tudo isso que se compõe a auto-estima.
                           É sobre a auto-estima que repousa a alma,
                                    E é nesta paz que reside a felicidade.

TIBA, Içami. Quem ama, educa! São Paulo: Editora Gente, 2002.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Quase

(Autoria atribuída a Luís Fernando Veríssimo, mas que ele mesmo diz ser de Sarah Westphal Batista da Silva, em sua coluna do dia 31 de março de 2005 do jornal O Globo)