Frase do dia

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sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Quadrilha, de Drummond de Andrade

João amava Teresa que amava Raimundo


que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili

que não amava ninguém.

João foi para o Estados Unidos, Teresa para o

convento,

Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,

Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto

Fernandes

que não tinha entrado na história.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Quero, Carlos Drummond de Andrade


Quero que todos os dias do ano
todos os dias da vida
de meia em meia hora
de 5 em 5 minutos
me digas: Eu te amo.

Ouvindo-te dizer: Eu te amo,
creio, no momento, que sou amado.
No momento anterior
e no seguinte,
como sabê-lo?

Quero que me repitas até a exaustão
que me amas que me amas que me amas.
Do contrário evapora-se a amação
pois ao não dizer: Eu te amo,
desmentes
apagas
teu amor por mim.

Exijo de ti o perene comunicado.
Não exijo senão isto,
isto sempre, isto cada vez mais.
Quero ser amado por e em tua palavra
nem sei de outra maneira a não ser esta
de reconhecer o dom amoroso,
a perfeita maneira de saber-se amado:
amor na raiz da palavra
e na sua emissão,
amor
saltando da língua nacional,
amor
feito som
vibração espacial.

No momento em que não me dizes:
Eu te amo,
inexoravelmente sei
que deixaste de amar-me,
que nunca me amastes antes.

Se não me disseres urgente repetido
Eu te amoamoamoamoamo,
verdade fulminante que acabas de desentranhar,
eu me precipito no caos,
essa coleção de objetos de não-amor.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Soneto da Perdida Esperança, de Carlos Drummond de Andrade


Perdi o bonde e a esperança
Volto pálido para casa
A rua é inútil e nenhum auto
passaria sobre meu corpo.

Vou subir a ladeira lenta
em que os caminhos se fundem.
Todos eles conduzem ao
Princípio o drama e da flora.

Não se se estou sofrendo
ou se é alguém que se diverte
por que não? Na noite escassa,

Com um insolúvel flautim.
Entretanto há muito tempo
nós gritamos: sim! ao eterno.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Toada do Amor

de Carlos Drummond de Andrade

E o amor sepre nessa toada:
briga perdoa perdoa briga

Não se deve xingar a vida,
a gente vive, depois esquece
Só o amor volta para brigar,
para perdoar,
amor cachorro bandido trem

Mas, se não fosse ele, também
que graça que a vida tinha?
Mariquita, dá cá o pito,
no teu pito está o infinito.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Nova Canção do Exílio

de Carlos Drummond de Andrade



Um sabiá
na palmeira, longe.
Estas aves cantam
um outro canto.


O céu cintila
sobre flores úmidas.
Vozes na mata
e o maior amor.


Só, na noite,
seria feliz:
um sabiá,
na palmeira, longe.


Onde é tudo belo
e fantástico,
só, na noite,
seria feliz.

(Um sabiá,
na palmeira, longe.)

Ainda um grito de vida e
voltar
para onde tudo é belo
e fantástico:
a palmeira, o sabiá,
o longe.


ANDRADE, Carlos D. de. Reunião: 10 livros de poesias. 6 ed. Rio de Janeiro, José Olympio, 1974. p. 94-5.