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terça-feira, 22 de setembro de 2009

Guernica, Murilo Mendes

Subsiste, Guernica, o exemplo macho,
Subsiste para sempre a honra castiça,
A jovem e antiga tradição do carvalho
Que descerra o pálio de diamante.

A força do teu coração desencadeado
Contactou os subterrâneos de Espanha.
E o mundo da lucidez a recebeu:
O ar voa incorporando-se teu nome.

In: MENDES, Murilo. Antologia poética. Sel. João Cabral de Melo Neto. Introd. José Guilherme Merquior. Rio de Janeiro: Fontana; Brasília: INL, 1976

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Somos todos poetas

de Murilo Mendes

Assisto em mim a um desdobrar de planos
as mãos vêem, os olhos ouvem, o cérebro se move,
A luz desce das origens através dos tempos
e caminha desde já
na frente dos meus sucessores
companheiro,
Eu sou tu, sou membro do teu corpo e adubo
da tua alma
Sou todos e sou um,
Sou responsável pela lepra do leproso e pela
Órbita vazia do cego,
pelos gritos isolados que não entraram no coro
Sou responsável pelas auroras que não
se levantam
E pela angústia que cresce dia a dia.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Canção do Exílio

de Murilo Mendes



Minha terra tem macieiras da Califórnia
onde cantam gaturamos de Veneza.
Os poetas da minha terra
são pretos que vivem em torres de ametista,
os sargentos do exército são monistas, cubistas,
os filósofos são polacos vendendo a prestações.
A gente não pode dormir
com os oradores e os pernilongos.
Os sururus em família têm por testemunha a Gioconda.



Eu morro sufocado
em terra estrangeira.
Nossas flores são mais bonitas
nossas frutas mais gostosas
mas custam cem mil réis a dúzia.
Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade
e ouvir um sabiá com certidão de idade!


MENDES, Murilo. Poesias (1925-1955). Rio de Janeiro, José Olympio, 1959. p.5