Frase do dia

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Sonhos, de Florbela Espanca




Ter um sonho, um sonho lindo,
Noite branda de luar,
Que se sonhasse a sorrir...
Que se sonhasse a chorar...

Ter um sonho, que nos fosse
A vida, a luz, o alento,
Que a sonhar beijasse doce
A nossa boca... um lamento...

Ser pra nós o guia, o norte,
Na vida o único trilho;
E depois ver vir a morte.

Despedaçar esses laços!...
... É pior que ter um filho
Que nos morresse nos braços!

Ensinamento, de Adélia Prado

Minha mãe achava estudo
a coisa mais fina do mundo.
Não é.
A coisa mais fina do mundo é o sentimento.
Aquele dia de noite, o pai fazendo serão,
ela falou comigo:
"Coitado, até essa hora no serviço pesado".
Arrumou pão e café, deixou tacho no fogo com água quente.
Não me falou em amor.
Essa palavra de luxo.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Pássaro, de Cecília Meireles



Aquilo que ontem cantava
já não canta
Morreu de uma flor na boa:
não no espinho na garganta.


Ele amava a água sem sede,
e, em verdade,
tendo asas, fitava o tempo,
livre de necessidade.

Não foi desejo de imprudência:
não foi nada
e o dia toca em silêncio
a desventura causada.

Se acaso isso é desventura
ir-e a vida
sobre uma rosa tão bela,
por uma tênue ferida.

Soneto da Perdida Esperança, de Carlos Drummond de Andrade


Perdi o bonde e a esperança
Volto pálido para casa
A rua é inútil e nenhum auto
passaria sobre meu corpo.

Vou subir a ladeira lenta
em que os caminhos se fundem.
Todos eles conduzem ao
Princípio o drama e da flora.

Não se se estou sofrendo
ou se é alguém que se diverte
por que não? Na noite escassa,

Com um insolúvel flautim.
Entretanto há muito tempo
nós gritamos: sim! ao eterno.

Haicais

Tudo tem limite,
mesmo sem idéia,
terei outro palplite.

****
É claro que a vida é boa,
ao passo dos tempos,
as coisas mudam à toa.

********

O que lance extraordinário
até a esmola
cai na mão do subsecretário.

******

Mundo, mundo vasto mundo
A cada minuto do relógio
O mundo fica mais imundo.

Autor: Ana Maria Torrecilha Izidoro do Prado

Narração

A narração tem por objetivo contar uma história real, fictícia ou mesclando dados reais e imaginários. Baseia-se numa evolução de acontecimentos mesmo que não mantenham relação de linearidade com o tempo real. Sendo assim, está pautada em verbos de ação e conectores temporais.
A narrativa pode ser em primeira pessoa ou terceira pessoa, dependendo do papel que o narrador assuma em relação à história. Numa narrativa em primeira pessoa, o narrador participa ativamente dos fatos narrados, mesmo que não seja a personagem principal (narrador=personagem). Já a narrativa em terceira pessoa traz o narrador como um observador dos fatos que pode até mesmo apresentar pensamentos de personagens do texto (narrador = observador).
O bom autor toma partido das duas opções de posicionamento para o narrador, a fim de criar uma história mais ou menos parcial, comprometida. Por exemplo, Machado de Assis, o escrever Dom Casmurro, optou pela narrativa em primeira pessoa, justamente para apresentar-nos os fatos segundo um ponto de vista interno, portanto mais parcial e subjetivo.
Ao criar um texto narrativo, deve-se ter em mente seis questões a serem respondidas:
  1. O quê? - trata-se do assunto, do episódio central;
  2. Por quê? Explicam-se as causas do corrido;
  3. Quando? É preciso detalhar o tempo, a época do ocorrido; isto não significa necessariamente a ata específica, e sim qual a sequência das ações;
  4. Onde? O lugar ou os lugares em que se passa a história;
  5. Quem? Os personagens envolvido;
  6. Como? Aqui, pode-se entender de que modo ocorreu a história, de que modo enredaram-se as situações; ou ainda, como a história é/foi contada;

As cousas do Mundo, de Gregório de Matos Guerra

Neste mundo é mais rico o que mais rapa:
Quem mais limpo se faz, tem mais carepa;
Com sua língua, ao nobre o vil decepa:
o velhaco maior sempre tem capa.

Mostra o patife da nobreza o mapa:
Quem tem mão de agarrar, ligeiro trepa;
Quem menos falar pode, mais increpa;
Quem dinheiro tiver, pode ser Papa.

A flor baixa se inculca por tulipa;
Bengala hoje na mão, ontem garlopa.
Mais isento se mostra o que mais chupa.

Para a tropa do trapo vazo a tripa
E mais não digo, porque a Musa topa
Em apa, epa, ipa, opa, upa.

Leitura e escrita como experiência - O avesso

Quando penso na leitura como experiência (na escola, na sala de aula ou fora delas), refiro-me a momentos em que fazemos comentários sobre livros ou revistas que lemos, trocando, negando, elogiando ou criticando, contando mesmo. Enfim, situações em que - tal como uma viagem, uma aventura - fala-se de livros e de histórias, contos, poemas ou personagens, compartilhando sentimentos e reflexões, plantando no ouvinte a coisa narrada, criando um solo comum de interlocutores, uma comunidade, uma coletividade. O que faz da leitura uma experiência é entrar nessa corrente em que a leitura é partilhada e, tanto quem lê, quanto quem propiciou a leitura ao escrever, aprendem, crescem, são desafiados.
Defendo a leitura da literatura, da poesia, de textos que têm dimensão artística, não por erudição. Não é o acúmulo de informações sobre clássicos, sobre gêneros ou sobre estilos, escolas ou correntes literária que torna a leitura uma experiência, mas sim o modo de realização dessa leitura: se é capaz de engendrar uma reflexão para além do seu momento em que acontece; se é capaz de ajudar a compreender a história vivida ante e sistematizada ou contada no livros.

Texto: Sônia Kramer. Em: Edwirges Zaccur (org). A magia da linguagem. Rio de Janeiro: DP&A: SEPE, 1999.

sábado, 22 de agosto de 2009

Alumbramento, de Manuel Bandeira



Eu vi os céus! Eu vi os céus!

Oh, essa angélica brancura

Sem tristes pejos e sem véus!


Nem uma nuvem de amargura

Vem a alma desassossegar.

E sinto-a bela... e sinto-a pura...


Eu vi nevar! Eu vi nevar!

Oh, cristalizações da bruma

A amortalhar, a cintilar!


Eu vi o mar! Lírios de espuma

Vinham desabrochar à flor

Da água que o vento desapruma...


Eu vi a estrela do pastor.

Vi a licorne alvinitente!

Vi... vi o rastro do Senhor!...


E vi a Via-Láctea ardente...

Vi comunhões ... capelas ... véus...

Súbito ... alucidamente...


Vi carros triunfais ... troféus...

Pérolas grandes como a lua...

Eu vi os céus! Eu vi os céus!


Eu vi-a nua ... toda nua!

Soneto, de Bocage




Oh retrato da morte, oh noite amiga,
Por cuja escuridão suspiro há tanto!
Calada testemunha do meu pranto,
De meus desgostos secretária antiga!

Pois manda Amor que a ti somente os diga,
Dá-lhes pio agasalho no teu manto;
Ouve-os, como costumas, ouve, enquanto
Dorme a cruel, que a delirar me obriga.

E vós, oh cortesãos da claridade,
Fantasmas vagos, mochos piadores,
Inimigos, como eu, da claridade!

Em bandos acudi aos meus clamores;
Quero a vossa medonha sociedade
Quero fartar meu coração de horrores.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Língua Portuguesa, de Olavo Bilac



Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela...

Amo-te assim, desconhecida e obscura,
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela
E o arrolo da saudade e da ternura!

Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,

Em que da voz materna ouvi: "meu filho!"
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Soneto do maior amor, de Vinícius de Moraes



Maior amor nem mais estranho existe
Que o meu, que não sossega a coisa amada
E quando a sente alegre, fica triste
E se a vê descontente, dá risada.

E que só fica em paz se lhe resiste
O amado coração, que se agrada
Mais da eterna aventura em que persiste
Que de uma vida mal-aventurada.

Louco amor meu, que quando toca, fere
E quando fere vibra, mas prefere
Ferir a fenecer - e vive a esmo

Fiel à sua lei de cada instante
Desassombrado, doido, delirante
Numa paixão de tudo e de si mesmo.

Mulheres, Luis Fernando Veríssimo


Certo dia parei para observar a mulheres e só pude concluir uma coisa: elas não são humanas. São espiãs. Espiãs de Deus, disfarçadas entre nós.
Pare para refletir sobre o sexto-sentido.
Alguém duvida de que ele exista?
E como explicar que ela saiba exatamente qual mulher, entre as presentes, em uma reunião, seja aquela que dá em cima de você?
E quando ela antecipa que alguém tem algo contra você, que alguém está ficando doente ou que você quer terminar o relacionamento?
E quando ela diz que vai fazer frio e manda você levar um casaco?
Rio de Janeiro, 40 graus, você vai pegar um avião pra São Paulo. Só meia-hora de voo. Ela fala pra você levar um casaco, porque "vai fazer frio". Você não leva. O que acontece?
O avião fica preso no tráfego, em terra, por quase duas horas, depois que você já entrou, antes de decolar. O ar condicionado chega a pingar gelo de tanto frio que faz lá dentro!
"Leve um sapato extra na mala, querido. Vai que você pisa numa poça..."
Se você não levar o "sapato extra", meu amigo, leve dinheiro extra para comprar outro. Pois o seu estará, sem dúvida, molhado...
O sexto-sentido não faz sentido!
É a comunicação direta com Deus!
Assim é muito fácil...
As mulheres são mães!
E preparam, literalmente, gente dentro de si.
Será que Deus confiaria tamanha responsabilidade a um reles mortal?
E não satisfeitas em ensinar a vida elas insistem em ensinar a vivê-la, de forma íntegra, oferecendo amor condicional e disponibilidade integral.
Fala-se em "praga de mãe", "amor de mãe", "coração de mãe"...
Tudo isso é meio mágico...
Talvez Ele tenha instalado o dispositivo "coração de mãe" nos anjos da guarda" de Seus filhos (que, aliá, foram criados à Sua imagem e semelhança).
As mulheres choram. Ou vazam? Ou extravazam?
Homens também choram, mas é um choro diferente. As lágrimas das mulheres têm um não se quê que não quer chorar, um não sei quê de fragilidade, um não sei quê de amor, um não sei quê de tempero divino, que tem um efeito devastador sobre os homens...
É choro feminino. É choro de mulher...
Já viram como as mulheres conversam com os olhos?
Elas conseguem pedir uma à outra para mudar de assunto com apenas um olhar.
Elas fazem um comentário sarcástico com outro olhar.
E apontam uma terceira pessoa com outro olhar.
Quantos tipos de olha existem?
Elas conhecem todos...
Parece que frequentam escolas diferentes das que frequentam os homens!
E é com um desses milhões de olhares que elas enfeitiçam os homens.
EN-FEI-TI-ÇAM!
E tem mais! No tocante às profissões, por que se concentram nas áreas de Humanas?
Para estudar os homens, é claro!
Embora algumas disfarcem e estudem Exatas...
Nem mesmo Freud se arriscou a adentrar nessa seara. Ele, que estudou, como poucos, o comportamento humano, disse que a mulher era "um continente obscuro".
Quer evidência maior do que essa?
Qualquer um que ama se aproxima de Deus.
E com as mulheres também á assim.
O amor as leva para perto d'Ele, já que Ele é o próprio amor. Por isso dizem "estar nas nuvens", quando apaixonadas.
É sabido que as mulheres confundem sexo e amor.
E isso seria uma falha, se não obrigasse os homens a uma atitude mais sensível e respeitosa com a própria vida.
Pena que eles nunca verão as mulheres-anjos que têm ao lado. Com todo esse amor de mãe, esposa e amiga, elas ainda são mulheres a maior parte do tempo.
Mas elas são anjos depois do sexo-amor.
É nessa hora que elas se sentem o próprio amor encarnado e voltam a ser anjos.
E levitam. Algumas até voam. Mas os homens não sabem disso. E nem poderiam. Porque são tomados por um encantamento que os faz dormir nessa hora.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Erro de Português, de Oswald de Andrade

Quando o português chegou
Debaixo de uma bruta chuva
Vestiu o índio
Que pena!
Fosse uma manhão de sol
O índio tinha despido
O português.

O gramático, de Oswald de Andrade

Os negro discutiam
Que o cavalo sipantou
Mas o que mais sabia
Disse que era
Sipantarrou.

Vício na fala, de Oswald de Andrade

Para dizerem milho dizem mio
Para melhor dizem mió
Para pior pió
Para telha dizem teia
Para telhado dizem teiado
E vão fazendo telhados.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Círculo vicioso, de Machado de Assis

Bailando no ar, gemia inquieto vagalume:

"Quem me dera que eu fosse aquela loira estrela

Que arde no eterno azul, como uma eterna vela!"

Mas a estrela, fitando a lua, com ciúme:


"Pudesse eu copiar-te o transparente lume,

que da grega à gótica janela,

Contemplou, suspirosa, a fronte amada e bela"

Mas a Lua, fitando o Sol com azedume:


"Mísera! Tivesse eu aquela enorme, aquela

Claridade imortal, que toda a luz resume"!

Mas o sol, inclinando a rútila capela:


Pesa-me esta brilhante auréola de nume...

Enfara-me esta luz e desmedida umbela...

Por que não nasci eu um simples vagalume?...

Carolina, de Machado de Assis


Querida, ao pé do leito derradeiro

Em que descansas dessa longa vida,

Aqui venho e virei, pobre querida,

Trazer-te o coração do companheiro.


Pulsa-lhe aquele afeto verdadeiro

Que, a despeito de toda a humana lida,

Fez a nossa existência apetecida

e num recanto pôs o mundo inteiro.


Trago-lhe flores - restos arrancados

Da terra que nos viu passar unidos

E ora mortos nos deixa e separados.


Que eu, se tenho nos olhos malferidos

Pensamentos de vida formulados,

São pensamentos idos e vividos.


(Machado de Assis, 1906)

domingo, 16 de agosto de 2009

Menestrel, Você aprende

Muitos questionam a autoria desse texto, uns acreditam ser de Willian Shakespeare, outros da tradutação do poema "After a While", de Veronica Shoffstall.

De qualquer maneira, é um belo texto.

A interpretação é de Moacir Reis.

A descrição

A descrição é um retrato que se faz de um objeto, pessoa, lugar ou situação. Esse retrato pode ser físico, psicológico ou social.
No texto narrativo, a descrição serve para que o leitor possa ter uma imagem mental do ser, já que há ausência do visual. Serve, também, para que o leitor tenha uma maior intimidade com as personagens e com os lugares.
Nos textos dissertativos, ela pode funcionar como estratégia argumentativa, na medida em que, ao descrever um objeto ou conceito, tem-se como objetivo caracterizá-lo para persuadir o leitor da validade.
Nas passagens puramente descritivas, não há a progressão temporal, é como se o tempo permanecesse estático, os dados são simultâneos. Como não há o movimento, os verbos utilizados são os que indicam estado, os verbos de ligação.
" A casa que se erguia além do gramado era uma estrutura que merecia tal consideração e era o objeto mais característico."
Não havendo a progressão temporal, não haverá mudanças de estado. Os tempos verbais próprios utilizados são o presente do indicativo e o pretérito do indicativo.
"Erguia-se sobre uma colina baixa, acima do rio - sendo este o Tâmisa, a cerca de 65 quilômetros de Londres."
A descrição particulariza o ser, não se fala "de ser humano", mas "do ser humano", de alguém em específico. Para isso, faz-se o de adjetivos, que em uma oração são usados para modificar o substantivo particularizando-o. Uma casa para que seja diferenciada de outros seres ou das demais deve ser detalhada. Uma descrição genérica pouco contribui na caracterização do objeto.
Na ausência de um adjetivo utiliza-se as comparações.
Resumindo, a descrição possui as seguintes características:
  1. é um retrato físico, social ou psicológico;
  2. não há progressão temporal ;
  3. não há mudança de estado - uso dos tempos verbais presente do indicativo e pretérito do indicativo;
  4. Os dados são simultâneos - uso dos verbos de ligação;
  5. particulariza o ser - uso de adjetivos e comparações.

Fonte:

Apostila de Interpretação de Texto - Sistema de Ensino Poliedro

MELO, Luiz Roberto D. de. PAGNAN, Celso Leopoldo. Prática de Texto: Leitura e Redação.Ed., revista e ampliada. São Paulo: Editora W3, 2000.

sábado, 15 de agosto de 2009

Quando uso onde ou aonde?

Aonde indica ideias de movimento ou aproximação. Opõe-se a donde, que exprime afastamento. Veja nos exemplos que a forma aonde costuma referir-se a verbos de movimento:
Aonde você vai?
Aonde querem chegar com essas atitudes?
Aonde devo dirigir-me para obter esclarecimentos?
Não sei aonde ir?
Onde indica o lugar em que se está ou em que se passa algum fato. Normalmente, refere-se a verbos que exprimem estado ou permanência. Observe:
Onde você está?
Onde você vai ficar nas próximas férias?
Discrimine os locais onde as tropas permanecem estacionadas.
Não sei onde começar a procurar.
O estabelecimento dessa diferença de significado tem sido uma tendência do português moderno. Na língua clássica, ela não existia; ainda hoje, é comum encontrar-se o emprego indiferente de uma ou outra forma. Para satisfazer os padrões da língua culta, procure observar essa diferença.
CIPRO NETO, Pasquale. INFANTE, Ulisses. Gramática da Língua Portuguesa. São Paulo: Scipione, 2003. p.531.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Soneto de separação, de Vinícius de Moraes



De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
e das mãos espalmadas fez-se o espanto.


De repente de calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.


De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.


Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.

Mudança, de Clarice Lispector

Mude, mas comece devagar,
porque a direção é mais importante
que a velocidade.

Sente-se em outra cadeira, no outro lado da mesa.
Mais tarde, mude de mesa.

Quando sair, procure andar pelo outro lado da rua.
Depois, mude de caminho, ande por outras ruas,
calmamente, observando com
atenção os lugares por onde você passa.

Tome outros ônibus.

Mude por uns tempos o estilo das roupas.
Dê os seus sapatos velhos.
Procure andar descalço alguns dias.
Tire uma tarde inteira para passear livremente na praia,
ou no parque, e ouvir o canto dos passarinhos.

Veja o mundo de outras perspectivas.
Abra e feche as gavetas e portas com a mão esquerda.
Durma no outro lado da cama...
Depois, procure dormir em outras camas
Assista a outros programas de TV,
compre outros jornais... leia outros livros.

Viva outros romances.

Não faça do hábito um estilo de vida.
Ame a novidade.
Durma mais tarde.
Durma mais cedo.

Aprenda uma palavra nova por dia numa outra língua.

Corrija a postura.

Como um pouco menos, escolha comidas diferentes,
novos temperos, novas cores, novas delícias.
Tente o novo todo dia.
O novo lado, o novo método, o novo sabor,
o novo jeito, o novo prazer, o novo amor.

A nova vida.

Tente.

Busque novos amigos.
Tente novos amores.
Faça novas relações.

Almoce em outros locais,
vá a outros restaurantes,
tome outro tipo de bebida,
compre pão em outra padaria.

Almoce mais cedo,
jante mais tarde ou vice-versa.

Escolha outro mercado... outra marca de sabonete,
outro creme dental...
Tome banho em novos horários.

Use canetas de outras cores.
Vá passear em outros lugares.

Ame muito,
cada vez mais,
de modos diferentes.

Troque de bolsa, de carteira, de malas,
troque de carro, compre novos
óculos, escreva outras poesias.

Jogue os velhos relógios,
quebre delicadamente
esses horrorosos despertadores.

Abra conta em outro banco.

Vá a outros cinemas, outros cabeleireiros,
outros teatros, visite novos museus.

Mude.

Lembre-se de que a Vida é uma só.
E pense seriamente em arrumar outro emprego,
uma nova ocupação,
um trabalho mais light, mais prazeroso,
mais digno, mais humano.

Se você não encontrar razões para ser livre, invente-as.

Seja criativo.

E aproveite para fazer uma viagem despretensiosa,
longa, se possível sem destino.

Experimente coisas novas.
Troque novamente.
Mude, de novo.
Experimente outra vez.

Você certamente conhecerá coisas melhores
e coisas piores do que as já
conhecidas, mas não é isso o que importa.

O mais importante é a mudança,
o movimento, o dinamismo, a energia.

Só o que está morto não muda!

Repito por pura alegria de viver: a salvação é pelo risco,
sem o qual a vida não vale a pena!!

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Soneto da fidelidade




de Vinicius de Moraes


De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de que vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa lhe dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

O sentido da Vida


Qual é o verdadeiro sentido da vida? Você sabe?
Nesse vídeo, podemos conhecer o verdadeiro sentido através do texto belíssimo de Cora Coralina.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Comunicação

Sendo o ser humano social, relaciona-se de modo interdependente com os indivíduos do grupo em que vive. A convivência realiza-se pela comunicação, que pode ser gestual, oral ou escrita. A eficácia determina a escolha da modalidade de qu se utiliza; por vezes, combinam-se duas ou mais formas de comunicação.

Os elementos são:

em que, por algum meio, alguém (emissor) comunica algo (mensagem) a outra pessoa (receptor) e observa as reações desta pessoa (é o retorno) para perceber a eficácia de sua comunicação.

O emissor deve ter habilidades cominicativas para enviar a mensagem ao seu interlocutor, seja na expressão oral (no conteúdo), com idéias claras; na forma, com articulação adequada, ritmo, volume de voz, elocução acompanhada de gesticulação pertinente), seja na expressão escrita (com domínio do assunto, com clareza e correção na organização das idéias e das frases).

O emissor deve levar em conta a capacidade de entendimento de seu receptor e regular o modo de expressar-se. Não se fala, sobre o mesmo asunto, da mesma forma com uma criança e com um adulto; com um ignorante e com um conhecedor do assunto.

Alguém, para ser um bom receptor, deve ter atenção auditiva dirigida para o emissor, concentrando-se em ouvir bem o que lhe é dito. Como leitor, deve ler o texto sem se deixar distrair por aquilo que perturba a atenção e desvia a mente do texto. Se há dificuldades de compreensão, elia sublinhando as palavras que não tenha entendido. Procure o significado no dicionário - não tente se enganar: só com pesquisa em dicionário seu vocabulário se amplia. Faça uma segunda leitura após o esclarecimento da significação dos vocábulos.

É amplo o significado de meio. Podemos entender como ambiente em que se dá a comunicação, bem como a via, o caminho, os canais que ligam o emissor ao receptor na transmissão de mensagem, oral ou escrita: jornais, rádio, cinema, televisão, internet,...

Cada meio de comunicação tem características próprias que o tornam mais eficiente. Procure verificar qual deve ser usado em determinado momento e lugar.

A mensagem deve ser adequada ao conjunto todo dos elementos de comunicação, tanto no conteúdo quanto na forma que se expressa por determinado meio para melhor atingir o receptor.

Ter idéias, entender o assunto de pouco lhe adianta se não souber como comunicar seus conhecimentos. Tanto isto vale na sua vida social quanto na profissional. Você terá mais facilidade de convivência e mais prestígio se souber comunicar bem, falando ou escrevendo.

NADÓLSKIS, Hêndricas. Comunicação Redacional Atualizada. São Paulo: Instituto Brasileiro de Edições Pedagógicas, 1999. p.83.

Mal / Mau

Mal pode ser advérbio, substantivo ou conjunção. Como advérbio, significa "irregularmente", "erradamente", "de forma incoveniente ou desagradável". Opõe-se a bem:

Era previsível que ele se comportaria mal.
Era evidente que ele estava mal-intencionado porque suas opiniões haviam repercutido mal na reunião anterior.
A seleção brasileira jogou mal, mas conseguiu vencer a partida.
Mal, como substantivo, pode significar "doença", "moléstia", em alguns casos, significa "aquilo que é prejudicial ou nocivo":
A febre amarela é um mal de que já nos havíamos livrado e que, devido ao descaso, voltou a atormentar as populações pobres.
O mal é que não se toma nenhuma atitude definitiva.
O substantivo mal também pode designar um conceito moral, ligado à ideia de maldade; nesse sentido, a palavra também se opõe a bem:
Há uma frase de que a visão da realidade nos faz muitas vezes duvidar: "O mal não compensa".
Quando conjunção, mal indica tempo:
Mal você chegou, ele saiu
Mau é adjetivo. Significa "ruim", "da má índole", "de má qualidade". Opõe-se a bom a apresenta a forma feminina má:
Trata-se de um mau administrador.
Tem um coração mau.
CIPRO NETO, Pasquale. INFANTE, Ulisses. Gramática da Língua Portugesa. São Paulo: Scipione, 2003. p.530-531.

Retrato, Cecília Meireles


de Cecília Meireles


Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força
tão paradas, frias e mortas
Eu não tinha esse coração que nem se mostra
Eu não dei por esta mudança simples,
tão certa, tão fácil
em que espelho ficou perdida minha face!

Somos todos poetas

de Murilo Mendes

Assisto em mim a um desdobrar de planos
as mãos vêem, os olhos ouvem, o cérebro se move,
A luz desce das origens através dos tempos
e caminha desde já
na frente dos meus sucessores
companheiro,
Eu sou tu, sou membro do teu corpo e adubo
da tua alma
Sou todos e sou um,
Sou responsável pela lepra do leproso e pela
Órbita vazia do cego,
pelos gritos isolados que não entraram no coro
Sou responsável pelas auroras que não
se levantam
E pela angústia que cresce dia a dia.

Toada do Amor

de Carlos Drummond de Andrade

E o amor sepre nessa toada:
briga perdoa perdoa briga

Não se deve xingar a vida,
a gente vive, depois esquece
Só o amor volta para brigar,
para perdoar,
amor cachorro bandido trem

Mas, se não fosse ele, também
que graça que a vida tinha?
Mariquita, dá cá o pito,
no teu pito está o infinito.