Já se afastou de nós o Inverno agreste
Envolto nos seus úmidos vapores;
A fértil primavera, a mãe das flores
O prado ameno de boninas veste:
Varrendo os ares o sutil nordeste
Os torna azuis; as aves de mil cores
Adejam entre Zéfiros e Amores,
E toma o fresco Tejo a cor celeste:
Vem, ó Marília, vem lograr comigo
Destes alegres campos a beleza,
Destas copadas árvores o abrigo:
Deixa louvar da corte a vã grandeza:
Quanto me agrada mais estar contigo
Notando as perfeições da Natureza!
oi gostaria de saber nesse texto podemos idetificar as caractericas que nos permitem classificar como arcades ou pre romanticos.
ResponderExcluirOlá!
ResponderExcluirBocage era um escritor árcade muito original e forte para o seu tempo,e prelúdio da modernidade romântica. Portanto, está poesia é arcade, mas com características que antecipam o Romântismo.
[...]
ResponderExcluirOlha , Marília, as flautas dos pastores,
Que bom que soam, como estão cadentes !
Olha o Tejo a sorrir-te ! Olha não sentes
Os Zéfiros brincar por entre as flores ?
Vê como ali, beijando-se os Amores
Incitam nossos ósculos ardentes !
Ei-las de planta em planta as inocentes,
As vagas borboletas de mil cores !
Naquele arbusto o rouxinol suspira,
Ora nas folhas a abelhinha pára,
Ora nos ares sussurando gira :
Que alegre campo ! que manhã tão clara !
Mas ah! Tudo o que vês, se eu te não vira,
Mais tristeza que a morte me causara.
[...]
Estou com o texto na íntegra. Acho que precisamos considerar o histórico do autor, pois sem sentimento verdadeiro, a arte não acontece. Não há características árcades, pois o Bocagge escreve o que há em si, ou seja o arcadismo imita o que há na vida do autor, não tendo ele se prendido a qualquer estilo literário.
ResponderExcluirSeu texto permeia elementos da natureza buscando retratar o iluminismo de forma acentuada, chamando a natureza de "perfeita", buscando sutilmente refutar o teocentrismo da Idade Média, para semear o racionalismo nos leitores. Depois de tal exaltação, se lembra que sem Marília ele entra em depressão, um tanto barroco, quer dizer, um tanto Camões. Aí, após adorar a natureza mundana, cai no inferno de sua alma, sentindo desespero, afinal, ele acaba de ser consumido por tal adoração iluminista. Essa dor, no fundo, revela a perda da sua mãe, super lógico.
Finalmente, revela como ainda rejeita qualquer coisa que se aproxime da religião, pois prefere o desespero ao sofrimento, afinal, a Bíblia informa, "...o amor é sofredor...", então dá para intuir que seu discurso tem peso político contra o antigo regime, pois seu pai fora preso político, o que também é lógico.