Frase do dia

domingo, 20 de setembro de 2009

Convite a Marilia, de Bocage

Já se afastou de nós o Inverno agreste
Envolto nos seus úmidos vapores;
A fértil primavera, a mãe das flores
O prado ameno de boninas veste:

Varrendo os ares o sutil nordeste
Os torna azuis; as aves de mil cores
Adejam entre Zéfiros e Amores,
E toma o fresco Tejo a cor celeste:

Vem, ó Marília, vem lograr comigo
Destes alegres campos a beleza,
Destas copadas árvores o abrigo:

Deixa louvar da corte a vã grandeza:
Quanto me agrada mais estar contigo
Notando as perfeições da Natureza!

4 comentários:

  1. oi gostaria de saber nesse texto podemos idetificar as caractericas que nos permitem classificar como arcades ou pre romanticos.

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  2. Olá!
    Bocage era um escritor árcade muito original e forte para o seu tempo,e prelúdio da modernidade romântica. Portanto, está poesia é arcade, mas com características que antecipam o Romântismo.

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  3. [...]

    Olha , Marília, as flautas dos pastores,
    Que bom que soam, como estão cadentes !
    Olha o Tejo a sorrir-te ! Olha não sentes
    Os Zéfiros brincar por entre as flores ?

    Vê como ali, beijando-se os Amores
    Incitam nossos ósculos ardentes !
    Ei-las de planta em planta as inocentes,
    As vagas borboletas de mil cores !

    Naquele arbusto o rouxinol suspira,
    Ora nas folhas a abelhinha pára,
    Ora nos ares sussurando gira :

    Que alegre campo ! que manhã tão clara !
    Mas ah! Tudo o que vês, se eu te não vira,
    Mais tristeza que a morte me causara.

    [...]

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  4. Estou com o texto na íntegra. Acho que precisamos considerar o histórico do autor, pois sem sentimento verdadeiro, a arte não acontece. Não há características árcades, pois o Bocagge escreve o que há em si, ou seja o arcadismo imita o que há na vida do autor, não tendo ele se prendido a qualquer estilo literário.

    Seu texto permeia elementos da natureza buscando retratar o iluminismo de forma acentuada, chamando a natureza de "perfeita", buscando sutilmente refutar o teocentrismo da Idade Média, para semear o racionalismo nos leitores. Depois de tal exaltação, se lembra que sem Marília ele entra em depressão, um tanto barroco, quer dizer, um tanto Camões. Aí, após adorar a natureza mundana, cai no inferno de sua alma, sentindo desespero, afinal, ele acaba de ser consumido por tal adoração iluminista. Essa dor, no fundo, revela a perda da sua mãe, super lógico.

    Finalmente, revela como ainda rejeita qualquer coisa que se aproxime da religião, pois prefere o desespero ao sofrimento, afinal, a Bíblia informa, "...o amor é sofredor...", então dá para intuir que seu discurso tem peso político contra o antigo regime, pois seu pai fora preso político, o que também é lógico.

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