Frase do dia

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Língua Portuguesa, de Olavo Bilac



Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela...

Amo-te assim, desconhecida e obscura,
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela
E o arrolo da saudade e da ternura!

Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,

Em que da voz materna ouvi: "meu filho!"
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Soneto do maior amor, de Vinícius de Moraes



Maior amor nem mais estranho existe
Que o meu, que não sossega a coisa amada
E quando a sente alegre, fica triste
E se a vê descontente, dá risada.

E que só fica em paz se lhe resiste
O amado coração, que se agrada
Mais da eterna aventura em que persiste
Que de uma vida mal-aventurada.

Louco amor meu, que quando toca, fere
E quando fere vibra, mas prefere
Ferir a fenecer - e vive a esmo

Fiel à sua lei de cada instante
Desassombrado, doido, delirante
Numa paixão de tudo e de si mesmo.

Mulheres, Luis Fernando Veríssimo


Certo dia parei para observar a mulheres e só pude concluir uma coisa: elas não são humanas. São espiãs. Espiãs de Deus, disfarçadas entre nós.
Pare para refletir sobre o sexto-sentido.
Alguém duvida de que ele exista?
E como explicar que ela saiba exatamente qual mulher, entre as presentes, em uma reunião, seja aquela que dá em cima de você?
E quando ela antecipa que alguém tem algo contra você, que alguém está ficando doente ou que você quer terminar o relacionamento?
E quando ela diz que vai fazer frio e manda você levar um casaco?
Rio de Janeiro, 40 graus, você vai pegar um avião pra São Paulo. Só meia-hora de voo. Ela fala pra você levar um casaco, porque "vai fazer frio". Você não leva. O que acontece?
O avião fica preso no tráfego, em terra, por quase duas horas, depois que você já entrou, antes de decolar. O ar condicionado chega a pingar gelo de tanto frio que faz lá dentro!
"Leve um sapato extra na mala, querido. Vai que você pisa numa poça..."
Se você não levar o "sapato extra", meu amigo, leve dinheiro extra para comprar outro. Pois o seu estará, sem dúvida, molhado...
O sexto-sentido não faz sentido!
É a comunicação direta com Deus!
Assim é muito fácil...
As mulheres são mães!
E preparam, literalmente, gente dentro de si.
Será que Deus confiaria tamanha responsabilidade a um reles mortal?
E não satisfeitas em ensinar a vida elas insistem em ensinar a vivê-la, de forma íntegra, oferecendo amor condicional e disponibilidade integral.
Fala-se em "praga de mãe", "amor de mãe", "coração de mãe"...
Tudo isso é meio mágico...
Talvez Ele tenha instalado o dispositivo "coração de mãe" nos anjos da guarda" de Seus filhos (que, aliá, foram criados à Sua imagem e semelhança).
As mulheres choram. Ou vazam? Ou extravazam?
Homens também choram, mas é um choro diferente. As lágrimas das mulheres têm um não se quê que não quer chorar, um não sei quê de fragilidade, um não sei quê de amor, um não sei quê de tempero divino, que tem um efeito devastador sobre os homens...
É choro feminino. É choro de mulher...
Já viram como as mulheres conversam com os olhos?
Elas conseguem pedir uma à outra para mudar de assunto com apenas um olhar.
Elas fazem um comentário sarcástico com outro olhar.
E apontam uma terceira pessoa com outro olhar.
Quantos tipos de olha existem?
Elas conhecem todos...
Parece que frequentam escolas diferentes das que frequentam os homens!
E é com um desses milhões de olhares que elas enfeitiçam os homens.
EN-FEI-TI-ÇAM!
E tem mais! No tocante às profissões, por que se concentram nas áreas de Humanas?
Para estudar os homens, é claro!
Embora algumas disfarcem e estudem Exatas...
Nem mesmo Freud se arriscou a adentrar nessa seara. Ele, que estudou, como poucos, o comportamento humano, disse que a mulher era "um continente obscuro".
Quer evidência maior do que essa?
Qualquer um que ama se aproxima de Deus.
E com as mulheres também á assim.
O amor as leva para perto d'Ele, já que Ele é o próprio amor. Por isso dizem "estar nas nuvens", quando apaixonadas.
É sabido que as mulheres confundem sexo e amor.
E isso seria uma falha, se não obrigasse os homens a uma atitude mais sensível e respeitosa com a própria vida.
Pena que eles nunca verão as mulheres-anjos que têm ao lado. Com todo esse amor de mãe, esposa e amiga, elas ainda são mulheres a maior parte do tempo.
Mas elas são anjos depois do sexo-amor.
É nessa hora que elas se sentem o próprio amor encarnado e voltam a ser anjos.
E levitam. Algumas até voam. Mas os homens não sabem disso. E nem poderiam. Porque são tomados por um encantamento que os faz dormir nessa hora.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Erro de Português, de Oswald de Andrade

Quando o português chegou
Debaixo de uma bruta chuva
Vestiu o índio
Que pena!
Fosse uma manhão de sol
O índio tinha despido
O português.

O gramático, de Oswald de Andrade

Os negro discutiam
Que o cavalo sipantou
Mas o que mais sabia
Disse que era
Sipantarrou.

Vício na fala, de Oswald de Andrade

Para dizerem milho dizem mio
Para melhor dizem mió
Para pior pió
Para telha dizem teia
Para telhado dizem teiado
E vão fazendo telhados.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Círculo vicioso, de Machado de Assis

Bailando no ar, gemia inquieto vagalume:

"Quem me dera que eu fosse aquela loira estrela

Que arde no eterno azul, como uma eterna vela!"

Mas a estrela, fitando a lua, com ciúme:


"Pudesse eu copiar-te o transparente lume,

que da grega à gótica janela,

Contemplou, suspirosa, a fronte amada e bela"

Mas a Lua, fitando o Sol com azedume:


"Mísera! Tivesse eu aquela enorme, aquela

Claridade imortal, que toda a luz resume"!

Mas o sol, inclinando a rútila capela:


Pesa-me esta brilhante auréola de nume...

Enfara-me esta luz e desmedida umbela...

Por que não nasci eu um simples vagalume?...

Carolina, de Machado de Assis


Querida, ao pé do leito derradeiro

Em que descansas dessa longa vida,

Aqui venho e virei, pobre querida,

Trazer-te o coração do companheiro.


Pulsa-lhe aquele afeto verdadeiro

Que, a despeito de toda a humana lida,

Fez a nossa existência apetecida

e num recanto pôs o mundo inteiro.


Trago-lhe flores - restos arrancados

Da terra que nos viu passar unidos

E ora mortos nos deixa e separados.


Que eu, se tenho nos olhos malferidos

Pensamentos de vida formulados,

São pensamentos idos e vividos.


(Machado de Assis, 1906)

domingo, 16 de agosto de 2009

Menestrel, Você aprende

Muitos questionam a autoria desse texto, uns acreditam ser de Willian Shakespeare, outros da tradutação do poema "After a While", de Veronica Shoffstall.

De qualquer maneira, é um belo texto.

A interpretação é de Moacir Reis.

A descrição

A descrição é um retrato que se faz de um objeto, pessoa, lugar ou situação. Esse retrato pode ser físico, psicológico ou social.
No texto narrativo, a descrição serve para que o leitor possa ter uma imagem mental do ser, já que há ausência do visual. Serve, também, para que o leitor tenha uma maior intimidade com as personagens e com os lugares.
Nos textos dissertativos, ela pode funcionar como estratégia argumentativa, na medida em que, ao descrever um objeto ou conceito, tem-se como objetivo caracterizá-lo para persuadir o leitor da validade.
Nas passagens puramente descritivas, não há a progressão temporal, é como se o tempo permanecesse estático, os dados são simultâneos. Como não há o movimento, os verbos utilizados são os que indicam estado, os verbos de ligação.
" A casa que se erguia além do gramado era uma estrutura que merecia tal consideração e era o objeto mais característico."
Não havendo a progressão temporal, não haverá mudanças de estado. Os tempos verbais próprios utilizados são o presente do indicativo e o pretérito do indicativo.
"Erguia-se sobre uma colina baixa, acima do rio - sendo este o Tâmisa, a cerca de 65 quilômetros de Londres."
A descrição particulariza o ser, não se fala "de ser humano", mas "do ser humano", de alguém em específico. Para isso, faz-se o de adjetivos, que em uma oração são usados para modificar o substantivo particularizando-o. Uma casa para que seja diferenciada de outros seres ou das demais deve ser detalhada. Uma descrição genérica pouco contribui na caracterização do objeto.
Na ausência de um adjetivo utiliza-se as comparações.
Resumindo, a descrição possui as seguintes características:
  1. é um retrato físico, social ou psicológico;
  2. não há progressão temporal ;
  3. não há mudança de estado - uso dos tempos verbais presente do indicativo e pretérito do indicativo;
  4. Os dados são simultâneos - uso dos verbos de ligação;
  5. particulariza o ser - uso de adjetivos e comparações.

Fonte:

Apostila de Interpretação de Texto - Sistema de Ensino Poliedro

MELO, Luiz Roberto D. de. PAGNAN, Celso Leopoldo. Prática de Texto: Leitura e Redação.Ed., revista e ampliada. São Paulo: Editora W3, 2000.